Os jornalistas angolanos, e figuras similares, continuam a falar muito quando devem estar calados e, é claro, ficam caladinhos quando devem falar. Grande parte deles, por saberem falar mas não saberem escrever, optam por dar palpites nas televisões e nas rádios, mostrando assim que quando têm de contar até 12 têm mesmo de se descalçar.
Por Orlando Castro
No âmbito da crise política, social, identitária, económica etc. que Angola enfrenta graças à incompetência governativa (do MPLA há 49 anos), os jornalistas deveriam ser uma solução para o problema. Mas não. São antes um problema para a solução, desde logo porque às segundas, quartas e sextas vestem a farda de jornalistas, às terças, quintas e sábados vestem a de assalariados partidários (sobretudo do MPLA e da UNITA), reservando o domingo para coçarem aquilo que a maioria não tem – tomates.
Sejamos francos, falando ou escrevendo. Os problemas que afectam a Comunicação Social angolana resultam sobretudo de um simples factor – a incompetência. Mas há também corrupção, bajulação, servilismo e similares.
Porque já foi passado institucionalmente o atestado de óbito à competência, os donos das empresas, bem como os donos dos donos, por regra o MPLA e a UNITA, apostam tudo na procura de problemas para a solução, de modo a que as suas linhas de enchimento trabalhem apenas para os poucos que têm milhões e não, como seria de esperar, para os milhões que têm pouco… ou nada.
Assim sendo, a crise é um remédio que dá para tudo, que se utiliza quando dá jeito e que, infelizmente, serve quase sempre para manter no poleiro os «filhos», mesmo que estes (por terem o cérebro ligado aos intestinos) sempre que “pensam” sai porcaria.
A fazer fé nos políticos da nossa zunga (não tanto nos zungueiros da nossa política), os jornalistas e opinadores devem limitar-se a ser correias de transmissão dos interesses dos seus patrões, MPLA e UNITA. É sempre assim. Não encontram (nem querem encontrar) a estrada da Beira e o mais simples é ficarem na beira da estrada.
Quando será que alguém se preocupará em ultrapassar (se calhar até mesmo em evitar que ela chegue) a crise, aumentando a produtividade voluntária dos trabalhadores e não transformando-os em autómatos analfabetos, mesmo que detentores de um qualquer doutoramento?
Quem manda não pensa nisso, desde logo porque é preciso manter o tacho. São pagos para executar e não para pensar. Como são pagos para multiplicar cifrões, custe o que custar, escolhem a solução mais eficaz – despedir a competência, substituindo-a pela bajulação.
Poderiam fazer melhor. Muito melhor. Ou seja, investir nas ideias e na capacidade, aumentando necessariamente a produtividade. Mas isso é complicado num país que só sabe fazer o possível e que anda a reboque dos que lideram graças ao facto de, muitas vezes, transformarem o impossível em possível.
É caso para, necessariamente, felicitar o partido/Governo/Estado do general João Lourenço, recordando que – com a óbvia conivência da UNITA – conseguiu sem grande esforço fazer dos jornalistas “tapetes do poder”, transformando muitos deles em “criados de luxo do poder vigente”.
Tal como antes dele, João Lourenço conseguiu sem grande esforço convencer os mais cépticos de que mais vale ser um propagandista da banha da cobra dos donos do reino (MPLA), mas de barriga cheia, do que um ilustre Jornalista com ela vazia.
De facto, na minha opinião, em matéria de Comunicação Social há um antes e um depois de João Lourenço, bem como um antes de um depois de Adalberto da Costa Júnior. Foi no consulado de João Lourenço que cresceu vertiginosamente o número de “jornalistas” que aprenderam a pensar apenas com a cabeça… do chefe. E o líder da UNITA também está no bom caminho sugerido pelo MPLA.
Os Jornalistas perceberam que ter um cartão do partido no Poder (MPLA) é mais do que meio caminho andado para ser chefe, director ou até administrador.
Apesar disso, continuo a estar ao lado dos que consideram que dizer o que pensamos ser a verdade é a melhor qualidade das pessoas de bem em geral, e dos Jornalistas em particular. Pessoas de bem onde, para meu penar, é cada vez mais difícil incluir os Jornalistas.
E o que em tempos era um trunfo (a memória), hoje é algo supérfluo. E se calhar não há nada a fazer. Para quê ter memória se, sem ela, os autómatos fazem o que é exigido ao “jornalismo” moderno?
Vem isto a (des)propósito das teses vigentes um pouco por todo o lado, nomeadamente nos areópagos da política angolana (bem inspirada pelos bordéis portugueses), que apontam para a necessidade de os jornalistas serem formatados consoante os interesses (económicos, políticos e similares) dos donos do Poder.
Se calhar, como me dizem ex-jornalistas que hoje são assessores, directores, administradores etc., o melhor era eu aceitar a derrota e na impossibilidade de os vencer, juntar-me a eles. Seria com certeza uma boa opção. O mal está, digo eu, que só é derrotado quem deixa de lutar. E, pelo menos para já, tenho mesmo de afirmar que a luta continua.
E continua porque, ao contrário dos donos do poder, continuo a lutar para que a imprensa não seja o tapete do poder, tenha ele as cores ou a denominação social que tiver (MPLA, UNITA).
Em síntese, cito Hernâni Von Doellinger, um dos melhores Jornalistas portugueses: “O que é curioso é que o jornalismo acabou, pelo menos em Portugal, quando toda a gente começou a saber de jornalismo, a ser especialista, exactamente no momento em que todos são jornalistas, menos nós os encartados, os jornalistas antigamente ditos”.